O estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e o relatório de impacto ambiental (RIMA) estão previstos no artigo 225, § 1º, IV da Constituição Federal (CF/88). Eles são instrumentos importantes para aplicação dos princípios do desenvolvimento sustentável e da prevenção.
O EIA é uma avaliação preliminar, necessária para a realização de qualquer obra ou atividade que possam causar lesão ao meio ambiente, e que visa diagnosticar a viabilidade de sua realização, com a finalidade de evitar danos ou pelo menos compensar os problemas ambientais que possam decorrer da obra.
Ele é composto por estudos técnicos, científicos, sociais, econômicos e outros que possam aferir o impacto ambiental. É um instrumento preventivo de tutela ambiental.
A competência para exigir o Estudo é da autoridade administrativa responsável pelo licenciamento ambiental. Quando a administração pública não exigir o EIA, quando for necessário, o MP ou qualquer outro co-legitimado pode ajuizar ação civil pública. Não necessita de autorização prévia do Poder Legislativo. É ato vinculado à atividade do Poder Executivo.
O RIMA é realizado posteriormente ao EIA. O RIMA detalha e completa o Estudo, que será apresentado ao órgão responsável pelo licenciamento. É o instrumento de comunicação do EIA à administração pública e ao cidadão, por esse motivo, deve ter uma linguagem mais acessível. Não tem prazo para ser elaborado.
A não realização do EIA/RIMA, quando for necessário, pode acarretar a responsabilidade, do empreendedor ou do órgão licenciador, por eventuais danos ao meio ambiente.
O EIA/RIMA por cuidar de interesse público, deve se pautar no princípio da publicidade.O órgão licenciador com base no EIA/RIMA pode solicitar audiência pública, de ofício ou a requerimento de entidade civil, do Ministério Público ou de 50 ou mais cidadãos. Se solicitado pelos legítimos interessados e não for instalada a audiência pública, pode gerar a invalidade da licença ambiental.
O EIA/RIMA sujeita-se a três formas de controle: a) controle da sociedade; b) controle administrativo; c) controle judicial.
Licenciamento ambiental – está previsto no artigo 10 da Lei 6938/81. Trata-se de exigência para a construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimento e atividades utilizadoras de recursos ambientais, que podem causar poluição ou cause degradação ambiental. Quando houver EIA/RIMA, a autoridade administrativa tem o prazo de 6 a 12 meses para conceder o licenciamento ambiental.
EIA/RIMA e licenciamento ambiental não são a mesma coisa. O licenciamento ambiental é exigido em qualquer obra, já o EIA/RIMA só é exigível para aquelas obras ou empreendimento de maior nocividade ao meio ambiente,
Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão devem ser publicados no diário oficial e em jornal regional ou local de grande circulação.
Fazem parte do licenciamento ambiental:
a) licença prévia – concedida na fase de planejamento da obra ou atividade. Visa reconhecer a viabilidade e definir exigências para execução da obra;
b) licença de instalação – aprova os documentos e autoriza a instalação da atividade a ser implantada. Pode ser autorizada em caráter precário. Prazo de validade de 6 anos;
c) licença de funcionamento – autorização para funcionar ou iniciar a execução das atividades.
terça-feira, 22 de junho de 2010
ANTONIO NOBREGA
Antonio Carlos Nóbrega é um artista e músico brasileiro.
Filho de médico, estudou no Colégio Marista do Recife. Aos 12 anos ingressou na Escola de Belas Artes do Recife. Foi aluno do violinista catalão Luís Soler e estudou canto lírico com Arlinda Rocha.
Com sua formação clássica, começou sua carreira na Orquestra de Câmara da Paraíba em João Pessoa, onde atuou até o final dos anos 60. Na mesma época participava da Orquestra Sinfônica do Recife, onde fazia também apresentações como solista.
Como contraponto à sua formação erudita, Antonio Nóbrega participava de um conjunto de música popular com suas irmãs. "Só que a música popular que eu compunha e tocava era a das rádios e da televisão: Beatles, Jovem Guarda, a nascente MPB, Caetano Veloso, Edu Lobo".
Em 1971 Ariano Suassuna procurava um violinista para formar o Quinteto Armorial e, após ver Antônio Nóbrega tocando um concerto de Bach, lhe fez o convite que mudaria completamente sua carreira musical.
Antônio Nóbrega, que até essa ocasião tinha pouco conhecimento da cultura popular, passou a manter contato intenso com todas suas expressões como os brincantes de caboclinho, de cavalo-marinho e tantos outros, que passou a conhecer e pesquisar.
Nóbrega revelou-se um fenômeno, ao conseguir unir a arte popular com a sofisticação. É, literalmente, um homem dos sete instrumentos, capaz de cantar, dançar, tocar bateria, rabeca, violão etc. Realizou espetáculos memoráveis em teatros do Rio de Janeiro e de São Paulo, com destaques para Figural (1990) e Brincante (1992). Figural é um espetáculo em que Nóbrega, sozinho no palco, muda de roupa e de máscaras para fazer uma das mais ricas demonstrações da cultura popular brasileira e mundial.
Terminou em 12 de novembro de 2006 a temporada paulistana do espetáculo 9 de Frevereiro, e, em seguida, iniciou a temporada carioca. Este espetáculo, cujo nome é uma alusão ao carnaval pernambucano e um trocadilho com frevo, explora várias formas de se tocar frevo: com uma orquestra de sopro, com um regional, com violino e percussão etc. Também há várias das formas de se dançar frevo: com apenas um dançarino (Nóbrega) em passos estilizados de dança moderna, com vários dançarinos em passos de frevo, com e sem sombrinha e até o público todo, em ciranda de frevo. Como não poderia faltar em um espetáculo enciclopédico sobre o frevo, há pelo menos dois momentos didáticos: em um a orquestra explica várias modalidades e costumes do frevo, e Antonio Nóbrega ensina uma pessoa da platéia a dançar frevo (fazer o passo).
Nóbrega é praticamente desconhecido na televisão do Brasil. Apesar disso, seus espetáculos são extremamente concorridos.
[editar] Discografia
Carreira Solo
• Na pancada do Ganzá (1996) - CD
• Madeira que cupim não rói (1997) - CD
• Pernambuco falando para o Mundo (1998) - CD
• O marco do meio-dia (2001) - CD
• Lunário perpétuo (2002) - CD e DVD
• Nove de frevereiro vol 1 (2005) - CD
• Nove de frevereiro - vol 2 (2006) - CD e DVD
Marco Antônio Coelho; Aluísio Falcão
ANTÔNIO NÓBREGA é um caso excepcional no Brasil. E um desaguadouro de múltiplas vertentes. Entre elas as das criações de nosso folclore, das histórias picarescas, da literatura de cordel, do circo mambembe, das folias carnavalescas e etc., tudo isso trabalhado por alguém, com formação erudita, que se dedica a resgatar as melhores tradições nas artes populares. Mas que as relança como a arte brincante, na qual a vida e a arte se confundem. Brincante porque a arte tem de educar, mas divertindo, e como um dos elementos para a transformação da sociedade. Como entende tal mister, como chegou a ele e o que pretende continuar fazendo? Eis o que relata nesta entrevista a Estudos Avançados.
Marco Antônio Coelho - Você poderia nos dar alguns dados sobre sua trajetória, principalmente a respeito da fase inicial?
Antônio Nóbrega - Vim para São Paulo em 1983, com um espetáculo chamado O maracatu misterioso. Era um solo que contava com a participação de uma segunda pessoa fazendo uma espécie de "contra-regra-que-atua". A pessoa que fazia essa contra-regragem era Rosane, minha mulher, que hoje atua comigo em Brincante e Segundas histórias.
Com a minha chegada a São Paulo dei início a um segundo estágio no desenvolvimento do meu trabalho artístico, pois a parte inicial, mais importante, penso, se dera no Recife. Eu, muito jovem, fui colocado a estudar música - violino - pelo meu pai. Minha mãe diz que eu batucava muito na mesa à hora das refeições e, por isso, parecia demonstrar inclinação para a música. De maneira que fui bater com os costados no estudo de violino através do batuque...
Durante muito tempo estudei violino e tive a sorte de ter um grande professor, um catalão chamado Luiz Soler, um homem muito austero no ensino do violino. Hoje, agradeço ao rigor e à disciplina desse professor, porque elas estão na base dos meus conhecimentos musicais. No período de seis ou sete anos, conciliei o violino com a atuação num conjunto de música popular, que eu mantinha com minhas irmãs. De vez em quando compunha músicas populares, que apresentava com esse conjunto em festivais, lá no Recife, naquela época dos famosos festivais da televisão. Em 1969 fui convidado por Ariano Suassuna para integrar o Quinteto Armorial. E aí me vi obrigado a conhecer o universo dos artistas e dos espetáculos populares, nordestinos em particular e brasileiros em geral. Até os meus dez anos de idade vivi em várias cidades do interior de Pernambuco, pois meu pai, médico sanitarista, era obrigado a mudar-se regularmente. Curiosamente eu não trago dessa fase da minha infância qualquer recordação especial sobre algum artista ou espetáculo popular que tenha assistido.
Da minha infância não me recordo de ter visto algum bumba-meu-boi, algum cantador de embolada, algum mamulengueiro. O povo, eu sempre o via no seu dia-a-dia. Ia com muita freqüência ao sertão, a família de meu pai é do sertão do Ceará, e para lá viajávamos muito (as viagens que hoje se fazem em sete horas, eram feitas em três dias). Antes de chegar em Lavras da Mangabeira (nosso destino nessas viagens) parávamos em cidades como Patos, Campina Grande, etc. e, por diversas vezes, nelas chegávamos em dias de feira e, assim, tinha a oportunidade de ver e sentir de perto o povo do sertão. Essa é uma das ligações possíveis da minha infância com o encontro posterior que tive com os artistas populares. Acho, então, que quando comecei a estudar o universo dos artistas populares reencontrei esse mesmo povo em estado de festa, de exaltação dionisíaca, de poesia.
Quando estava no Quinteto Armorial, não só me interessei pela música, mas também pelo universo total desses artistas - dançarinos, cantadores, rezadeiras, emboladores etc. Durante mais de dez anos dediquei-me a aprender tudo o que eles faziam. Com os passistas de frevo eu inventei até de tomar aulas em período não carnavalesco. Às vezes me metia a conviver com algum mestre de bumba-meu-boi e com ele aprendia a modelar figuras, a catar cipós nos mangues para fazer a burrinha, o boi etc. Outras vezes, acompanhava longamente um tocador de rabeca e procurava aprender com ele sua maneira de tocar. Enfim, fui um franco-aprendedor integral em termos de estudo com artistas populares.
Tudo isso me levou, a partir de 1976, a elaborar espetáculos em que essas referências se mostravam muito presentes. O primeiro deles foi A bandeira do Divino, e o estreei em 1976, em Recife. Depois foi a vez de A arte da cantoria, espetáculo que, inclusive, veio a participar de um festival de artes cênicas, aqui em São Paulo, promovido por Ruth Escobar. Isso em 1981, há mais de dez anos. Depois criei O maracatu misterioso, com o qual me transferi para São Paulo e dei início a uma outra fase da minha vida artística.
A dança e a música
Aluísio Falcão - Você evoluiu do trabalho de instrumentista no Quinteto Armorial para o trabalho de dança em 1976. Pergunto: dançar é artisticamente mais excitante do que tocar um instrumento?
Nóbrega, - Essa é uma pergunta que às vezes me faço. Bem, pelo lado do prazer sinto que a música leva um pouco mais de vantagem; ela me traz uma satisfação, percentualmente, um pouco maior do que tenho com a dança. Não saberia viver sem qualquer das duas, mas a necessidade da música, em mim, ainda é maior. Não sei se é pelo esforço, pois quando você vai praticar um instrumento tem um dispêndio de energia diferente daquele empregado na dança. Nela você tem de criar um auto-impulso maior do que aquele necessário para tocar ou cantar.
Embora também componha, como músico considero-me mais um intérprete. Mas o mesmo não sucede com a dança, pois nesse campo sinto-me mais como um criador. Quem está procurando uma dança brasileira, através da tradição da cultura popular, encontra um campo aberto e favorável. São muito poucas as pessoas que incursionaram por esse caminho. Isso me traz, por conseguinte, um enorme fascínio. Na dança brasileira que pressinto tudo é novo, tudo é virgem ainda e, por essa razão, sinto que estou sempre encontrando coisas ainda não tocadas.
Aluísio - Noto um aspecto, um lado seu, ao qual não se referiu - o lado ator. Queria saber como desenvolveu isso e, engatando uma outra questão, os chamados brincantes populares tanto usam o corpo como as palavras? Podemos dizer que eles são mais completos do que os atores? Estes geralmente não usam o corpo e os bailarinos, os clássicos pelo menos, não utilizam as palavras. Então, esses brincantes são artistas mais plenos?
Filho de médico, estudou no Colégio Marista do Recife. Aos 12 anos ingressou na Escola de Belas Artes do Recife. Foi aluno do violinista catalão Luís Soler e estudou canto lírico com Arlinda Rocha.
Com sua formação clássica, começou sua carreira na Orquestra de Câmara da Paraíba em João Pessoa, onde atuou até o final dos anos 60. Na mesma época participava da Orquestra Sinfônica do Recife, onde fazia também apresentações como solista.
Como contraponto à sua formação erudita, Antonio Nóbrega participava de um conjunto de música popular com suas irmãs. "Só que a música popular que eu compunha e tocava era a das rádios e da televisão: Beatles, Jovem Guarda, a nascente MPB, Caetano Veloso, Edu Lobo".
Em 1971 Ariano Suassuna procurava um violinista para formar o Quinteto Armorial e, após ver Antônio Nóbrega tocando um concerto de Bach, lhe fez o convite que mudaria completamente sua carreira musical.
Antônio Nóbrega, que até essa ocasião tinha pouco conhecimento da cultura popular, passou a manter contato intenso com todas suas expressões como os brincantes de caboclinho, de cavalo-marinho e tantos outros, que passou a conhecer e pesquisar.
Nóbrega revelou-se um fenômeno, ao conseguir unir a arte popular com a sofisticação. É, literalmente, um homem dos sete instrumentos, capaz de cantar, dançar, tocar bateria, rabeca, violão etc. Realizou espetáculos memoráveis em teatros do Rio de Janeiro e de São Paulo, com destaques para Figural (1990) e Brincante (1992). Figural é um espetáculo em que Nóbrega, sozinho no palco, muda de roupa e de máscaras para fazer uma das mais ricas demonstrações da cultura popular brasileira e mundial.
Terminou em 12 de novembro de 2006 a temporada paulistana do espetáculo 9 de Frevereiro, e, em seguida, iniciou a temporada carioca. Este espetáculo, cujo nome é uma alusão ao carnaval pernambucano e um trocadilho com frevo, explora várias formas de se tocar frevo: com uma orquestra de sopro, com um regional, com violino e percussão etc. Também há várias das formas de se dançar frevo: com apenas um dançarino (Nóbrega) em passos estilizados de dança moderna, com vários dançarinos em passos de frevo, com e sem sombrinha e até o público todo, em ciranda de frevo. Como não poderia faltar em um espetáculo enciclopédico sobre o frevo, há pelo menos dois momentos didáticos: em um a orquestra explica várias modalidades e costumes do frevo, e Antonio Nóbrega ensina uma pessoa da platéia a dançar frevo (fazer o passo).
Nóbrega é praticamente desconhecido na televisão do Brasil. Apesar disso, seus espetáculos são extremamente concorridos.
[editar] Discografia
Carreira Solo
• Na pancada do Ganzá (1996) - CD
• Madeira que cupim não rói (1997) - CD
• Pernambuco falando para o Mundo (1998) - CD
• O marco do meio-dia (2001) - CD
• Lunário perpétuo (2002) - CD e DVD
• Nove de frevereiro vol 1 (2005) - CD
• Nove de frevereiro - vol 2 (2006) - CD e DVD
Marco Antônio Coelho; Aluísio Falcão
ANTÔNIO NÓBREGA é um caso excepcional no Brasil. E um desaguadouro de múltiplas vertentes. Entre elas as das criações de nosso folclore, das histórias picarescas, da literatura de cordel, do circo mambembe, das folias carnavalescas e etc., tudo isso trabalhado por alguém, com formação erudita, que se dedica a resgatar as melhores tradições nas artes populares. Mas que as relança como a arte brincante, na qual a vida e a arte se confundem. Brincante porque a arte tem de educar, mas divertindo, e como um dos elementos para a transformação da sociedade. Como entende tal mister, como chegou a ele e o que pretende continuar fazendo? Eis o que relata nesta entrevista a Estudos Avançados.
Marco Antônio Coelho - Você poderia nos dar alguns dados sobre sua trajetória, principalmente a respeito da fase inicial?
Antônio Nóbrega - Vim para São Paulo em 1983, com um espetáculo chamado O maracatu misterioso. Era um solo que contava com a participação de uma segunda pessoa fazendo uma espécie de "contra-regra-que-atua". A pessoa que fazia essa contra-regragem era Rosane, minha mulher, que hoje atua comigo em Brincante e Segundas histórias.
Com a minha chegada a São Paulo dei início a um segundo estágio no desenvolvimento do meu trabalho artístico, pois a parte inicial, mais importante, penso, se dera no Recife. Eu, muito jovem, fui colocado a estudar música - violino - pelo meu pai. Minha mãe diz que eu batucava muito na mesa à hora das refeições e, por isso, parecia demonstrar inclinação para a música. De maneira que fui bater com os costados no estudo de violino através do batuque...
Durante muito tempo estudei violino e tive a sorte de ter um grande professor, um catalão chamado Luiz Soler, um homem muito austero no ensino do violino. Hoje, agradeço ao rigor e à disciplina desse professor, porque elas estão na base dos meus conhecimentos musicais. No período de seis ou sete anos, conciliei o violino com a atuação num conjunto de música popular, que eu mantinha com minhas irmãs. De vez em quando compunha músicas populares, que apresentava com esse conjunto em festivais, lá no Recife, naquela época dos famosos festivais da televisão. Em 1969 fui convidado por Ariano Suassuna para integrar o Quinteto Armorial. E aí me vi obrigado a conhecer o universo dos artistas e dos espetáculos populares, nordestinos em particular e brasileiros em geral. Até os meus dez anos de idade vivi em várias cidades do interior de Pernambuco, pois meu pai, médico sanitarista, era obrigado a mudar-se regularmente. Curiosamente eu não trago dessa fase da minha infância qualquer recordação especial sobre algum artista ou espetáculo popular que tenha assistido.
Da minha infância não me recordo de ter visto algum bumba-meu-boi, algum cantador de embolada, algum mamulengueiro. O povo, eu sempre o via no seu dia-a-dia. Ia com muita freqüência ao sertão, a família de meu pai é do sertão do Ceará, e para lá viajávamos muito (as viagens que hoje se fazem em sete horas, eram feitas em três dias). Antes de chegar em Lavras da Mangabeira (nosso destino nessas viagens) parávamos em cidades como Patos, Campina Grande, etc. e, por diversas vezes, nelas chegávamos em dias de feira e, assim, tinha a oportunidade de ver e sentir de perto o povo do sertão. Essa é uma das ligações possíveis da minha infância com o encontro posterior que tive com os artistas populares. Acho, então, que quando comecei a estudar o universo dos artistas populares reencontrei esse mesmo povo em estado de festa, de exaltação dionisíaca, de poesia.
Quando estava no Quinteto Armorial, não só me interessei pela música, mas também pelo universo total desses artistas - dançarinos, cantadores, rezadeiras, emboladores etc. Durante mais de dez anos dediquei-me a aprender tudo o que eles faziam. Com os passistas de frevo eu inventei até de tomar aulas em período não carnavalesco. Às vezes me metia a conviver com algum mestre de bumba-meu-boi e com ele aprendia a modelar figuras, a catar cipós nos mangues para fazer a burrinha, o boi etc. Outras vezes, acompanhava longamente um tocador de rabeca e procurava aprender com ele sua maneira de tocar. Enfim, fui um franco-aprendedor integral em termos de estudo com artistas populares.
Tudo isso me levou, a partir de 1976, a elaborar espetáculos em que essas referências se mostravam muito presentes. O primeiro deles foi A bandeira do Divino, e o estreei em 1976, em Recife. Depois foi a vez de A arte da cantoria, espetáculo que, inclusive, veio a participar de um festival de artes cênicas, aqui em São Paulo, promovido por Ruth Escobar. Isso em 1981, há mais de dez anos. Depois criei O maracatu misterioso, com o qual me transferi para São Paulo e dei início a uma outra fase da minha vida artística.
A dança e a música
Aluísio Falcão - Você evoluiu do trabalho de instrumentista no Quinteto Armorial para o trabalho de dança em 1976. Pergunto: dançar é artisticamente mais excitante do que tocar um instrumento?
Nóbrega, - Essa é uma pergunta que às vezes me faço. Bem, pelo lado do prazer sinto que a música leva um pouco mais de vantagem; ela me traz uma satisfação, percentualmente, um pouco maior do que tenho com a dança. Não saberia viver sem qualquer das duas, mas a necessidade da música, em mim, ainda é maior. Não sei se é pelo esforço, pois quando você vai praticar um instrumento tem um dispêndio de energia diferente daquele empregado na dança. Nela você tem de criar um auto-impulso maior do que aquele necessário para tocar ou cantar.
Embora também componha, como músico considero-me mais um intérprete. Mas o mesmo não sucede com a dança, pois nesse campo sinto-me mais como um criador. Quem está procurando uma dança brasileira, através da tradição da cultura popular, encontra um campo aberto e favorável. São muito poucas as pessoas que incursionaram por esse caminho. Isso me traz, por conseguinte, um enorme fascínio. Na dança brasileira que pressinto tudo é novo, tudo é virgem ainda e, por essa razão, sinto que estou sempre encontrando coisas ainda não tocadas.
Aluísio - Noto um aspecto, um lado seu, ao qual não se referiu - o lado ator. Queria saber como desenvolveu isso e, engatando uma outra questão, os chamados brincantes populares tanto usam o corpo como as palavras? Podemos dizer que eles são mais completos do que os atores? Estes geralmente não usam o corpo e os bailarinos, os clássicos pelo menos, não utilizam as palavras. Então, esses brincantes são artistas mais plenos?
Educação Ambiental
Educação Ambiental
Definição
O conceito de Educação Ambiental varia de interpretações, de acordo com cada contexto, conforme a influência e vivência de cada um. Para muitos, a Educação Ambiental restringe-se em trabalhar assuntos relacionados à natureza: lixo, preservação, paisagens naturais, animais, etc. Dentro deste enfoque, a Educação Ambiental assume um caráter basicamente naturalista.
Atualmente, a Educação Ambiental assume um caráter mais realista, embasado na busca de um equilíbrio entre o homem e o ambiente, com vista à construção de um futuro pensado e vivido numa lógica de desenvolvimento e progresso (pensamento positivista). Neste contexto, a Educação Ambiental é ferramenta de educação para o desenvolvimento sustentável (apesar de polêmico o conceito de desenvolvimento sustentável, tendo em vista ser o próprio "desenvolvimento" o causador de tantos danos sócio-ambientais).
Ampliando a maneira de perceber a Educação Ambiental podemos dizer que se trata de uma prática de educação para a sustentabilidade. Para muitos especialistas, uma Educação Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável é severamente criticada pela dicotomia existente entre "desenvolvimento e sustentabilidade". Para perceber a abrangência e o significado da Educação Ambiental é preciso uma forma de pensar mais complexa – da teoria moriniana. Só assim será possível a evolução deste conceito ao seu amplo significado.
O CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente - define a Educação Ambiental como um processo de formação e informação orientado para o desenvolvimento da consciência critica sobre as questões ambientais, e de atividades que levem à participação das comunidades na preservação do equilíbrio ambiental.
A Lei Federal nº 9.795 define a Educação Ambiental como “o processo por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (art.1º, Lei Federal nº 9.795, de 27/4/99)
Para a UNESCO “A educação ambiental é um processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, habilidades, experiências, valores e a determinação que os tornam capazes de agir, individual ou coletivamente, na busca de soluções para os problemas ambientais, presentes e futuros.
Para Aziz Ab’ Saber a “Educação Ambiental é um processo que envolve um vigoroso esforço de recuperação de realidades e que garante um compromisso com o futuro. Uma ação entre missionária utópica destinada a reformular comportamentos humanos e recriar valores perdidos ou jamais alcançados. Trata-se de um novo ideário comportamental, tanto no âmbito individual quanto coletivo”.
Atualmente a Educação Ambiental é subdividida em formal e informal.
• Formal é um processo institucionalizado que ocorre nas unidades de ensino;
• Informal caracteriza-se por sua realização fora da escola, envolvendo flexibilidade de métodos e de conteúdos e um público alvo muito variável em suas características (faixa etária, nível de escolaridade, nível de conhecimento da problemática ambiental, etc.).
Para se atingir o que a Educação Ambiental realmente almeja é absolutamente necessário interligar esses dois aspectos citados, contribuindo para que os conhecimentos aprendidos dentro de um "ensino formal" possam ser aplicados pelas ações extraclasse; contribuindo simultaneamente com o desenvolvimento dos conhecimentos já adquiridos e para a tomada de consciência nas atitudes e competências necessárias à conservação, preservação do ambiente e melhoria de vida.
Histórico
O debate acerca dos problemas ambientais não é recente. Em 1962, o livro Primavera Silenciosa da jornalista Rachel Carson provocou uma grande inquietação internacional sobre a temática ambiental. A autora relatou uma seqüência de desastres ambientais, em várias partes do mundo, causados por absoluto descuido dos setores industriais .
Em março de 1965, educadores reunidos na Conferência de Keele, na Grã-Bretanha, concordavam que a dimensão ambiental deveria ser abordada imediatamente na escola, fazendo parte da educação de todos os cidadãos, surgindo dessa forma à expressão Educação Ambiental– EA. Em 1970, a Sociedade Audubon publicaria Um lugar para viver, um manual para professores que incorporava a dimensão ambiental em várias atividades curriculares e viria a se tomar um clássico da literatura sobre EA.
Na seqüência dos fatos históricos em 1972, o Clube de Roma publicou o relatório, Os limites do crescimento econômico, denunciando que o crescente consumo mundial levaria a humanidade a um limite de crescimento e, possivelmente, a um colapso. Em conseqüência da repercussão internacional desse relatório foi realizada, neste mesmo ano, a Conferência da Organização Nações Unidas– ONU sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo, reunindo representantes de 113 países. Foi nessa conferência a primeira vez na história da humanidade em que o tema ambiental e a necessidade de compatibilizar a economia com o manejo sustentável de recursos naturais foram incorporados na agenda política internacional.
Sendo assim, a EA surge no nosso país muito antes da sua institucionalização no governo federal. Através de artigos de autores brasileiros e de um persistente movimento conservacionista, em 1970, fundava-se no Brasil a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, precursora de movimentos ambientalistas em nosso território, quando ainda não tínhamos nem mesmo uma legislação ambiental, como a maioria das nações.
Um desafio interessante ocorre nas décadas de 60/70, quando o Regime Militar coibia o debate político e as ações coletivas, onde a temática social não fazia parte da pauta educacional. O ambientalismo representava um obstáculo à consolidação da nova ideologia nacional‖, baseada na busca contraditória do desenvolvimento econômico. A EA, nesse período, desenvolvia-se sob os marcos do naturalismo, desprovido de debate político que articulasse as questões ambientais às socioeconômicas.
Dessa forma, no início dos anos 70 ocorre a emergência de um ambientalismo que se une às lutas pelas liberdades democráticas, que se manifesta através da ação isolada de professores, estudantes e escolas, por meio de pequenas ações de organizações da sociedade civil ou mesmo de prefeituras municipais e governos.
Histórico da Educação Ambiental
Década de 60
1962
Livro “Primavera Silenciosa” de Rachel Carson - alertava sobre os efeitos danosos de inúmeras ações humanas sobre o ambiente, como por exemplo o uso de pesticidas.
1968
Nasce o Conselho para Educação Ambiental, no Reino Unido. Neste mesmo ano, surge o Clube de Roma que em 1972, produz o relatório “Os Limites do Crescimento Econômico” que estudou ações para se obter no mundo um equilíbrio global como a redução do consumo tendo em vista determinadas prioridades sociais.
Década de 70
1970
Entidade relacionada à revista britânica The Ecologist elabora o “Manifesto para Sobrevivência” onde insistiam que um aumento indefinido de demanda não pode ser sustentado por recursos finitos.
1972
Conferência das Nações sobre o Ambiente Humano, Estocolmo. Os principais resultados formais do encontro constituíram a Declaração sobre o Ambiente Humano ou Declaração de Estocolmo que expressa a convicção de que “tanto as gerações presentes como as futuras, tenham reconhecidas como direito fundamental, a vida num ambiente sadio e não degradado”(Tamanes - 1977). Ainda como resultado da Conferência de Estocolmo, neste mesmo ano a ONU criou um organismo denominado Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente -PNUMA, sediado em Nairobi.
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul criou o primeiro curso de pós-graduação em Ecologia do país.
1975
Em resposta às recomendações da Conferência de Estocolmo, A UNESCO promoveu em Belgrado (Iugoslávia) um Encontro Internacional em Educação Ambiental onde criou o Programa Internacional de Educação Ambiental - PIEA que formulou os seguintes princípios orientadores : a Educação Ambiental deve ser continuada, multidisciplinar, integrada às diferenças regionais e voltada para os interesses nacionais.Carta de Belgrado - constitui um dos documentos mais lúcidos e importantes gerados nesta década. Fala sobre a satisfação das necessidades e desejos de todos os cidadãos da Terra. Propõe temas que falam que a erradicação das causas básicas da pobreza como a fome, o analfabetismo, a poluição, a exploração e dominação, devam ser tratados em conjunto. Nenhuma nação deve se desenvolver as custas de outra nação, havendo necessidade de uma ética global. A reforma dos processos e sistemas educacionais é central para a constatação dessa nova ética de desenvolvimento. A juventude deve receber um novo tipo de educação que requer um novo e produtivo relacionamento entre estudantes e professores, entre escolas e comunidade, entre o sistema educacional e sociedade. Finaliza com a proposta para um programa mundial de Educação Ambiental.
1976
Criação dos cursos de pós-graduação em Ecologia nas Universidades do Amazonas, Brasília, Campinas, São Carlos e o Instituto Nacional de Pesquisas Aéreas - INPA em São José dos Campos.
1977
Realizada a Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental em Tbilisi (ex-URSS) organizada pela UNESCO com a colaboração do PNUMA. Foi o ponto culminante da primeira fase do Programa Internacional de Educação Ambiental, iniciado em 1975. Definiu-se os objetivos, as características da EA, assim como as estratégias pertinentes no plano nacional e internacional.
No Brasil, o Conselho Federal de Educação tornou obrigatória a disciplina Ciências Ambientais em cursos universitários de Engenharia.
1978
Os cursos de Engenharia Sanitária já inseriam as matérias de Saneamento Básico e Saneamento Ambiental.
1979
Realização do Seminário de Educação Ambiental para América Latina realizado pela UNESCO e PNUMA na Costa Rica.
O departamento do Ensino Médio/MEC e a CETESB publicam o documento “Ecologia - Uma proposta para o Ensino de 1º e 2º graus”.
Década de 80
1985
Parecer 819/85 do MEC reforça a necessidade da inclusão de conteúdos ecológicos ao longo do processo de formação do ensino de 1º e 2º graus, integrados a todas as áreas do conhecimento de forma sistematizada e progressiva, possibilitando a “formação da consciência ecológica do futuro cidadão”.
1987
Estratégia Internacional de ação em matéria de educação e formação ambiental para o decênio de 90 - documento final do Congresso Internacional sobre Educação e Formação Relativas ao Meio-ambiente, realizado em 1987 em Moscou, Rússia, promovido pela UNESCO. Ressalta a importância da formação de recursos humanos nas áreas formais e não formais da EA e na inclusão da dimensão ambiental nos currículos de todos os níveis.
Plenário do Conselho Federal de Educação aprovou por unanimidade, a conclusão da Câmara de Ensino a respeito do parecer 226/87 que considerava necessária a inclusão da Educação Ambiental dentre os conteúdos a serem explorados nas propostas curriculares das escolas de 1º e 2º graus, bem como sugeria a criação de Centros de Educação Ambiental.
A UNESCO/PNUMA realizou em Moscou o Congresso Nacional sobre Educação e Formação Ambientais - UNESCO/PNUMA onde foram analisadas as conquistas e dificuldades na área de EA desde a conferência de Tbilisi e discutido uma estratégia internacional de ação em educação e formação ambientais para a década de 90.
1988
Constituição da República Federativa do Brasil dedicou o Capítulo VI ao Meio Ambiente e no Art. 225, Inciso VI, determina ao “... Poder Público, promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino...”.
Realização do Primeiro Congresso Brasileiro de Educação Ambiental no Rio Grande do Sul.
Realização do Primeiro Fórum de Educação Ambiental promovido pela CECAE/USP, que mais tarde foi assumido pela Rede Brasileira de Educação Ambiental.
1989
Realização da 3º Conferência Internacional sobre Educação Ambiental para as Escolas de 2º Grau com o tema Tecnologia e Meio Ambiente, em Illinois/USA.
Década de 90
1990
A Declaração Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem, aprovada na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada Jontien, Tailândia, de 5 a 9 de março de 1990, reitera: “confere aos membros de uma sociedade a possibilidade e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de respeitar e desenvolver a sua herança cultural, lingüística e espiritual, de promover a educação de outros, de defender a causa da justiça social, de proteger o meio ambiente....”
1991
Portaria 678/91 do MEC, determinou que a educação escolar deveria contemplar a Educação Ambiental permeando todo o currículo dos diferentes níveis e modalidades de ensino. Foi enfatizada a necessidade de investir na capacitação de professores.
Portaria 2421 /91 do MEC, institui em caráter permanente um Grupo de Trabalho de EA com o objetivo de definir com as Secretarias Estaduais de Educação, as metas e estratégias para a implantação da EA no país e elaborar proposta de atuação do MEC na área da educação formal e não-formal para a Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Encontro Nacional de Políticas e Metodologias para a Educação Ambiental, promovido pelo MEC e SEMA com apoio da UNESCO/Embaixada do Canadá em Brasília, com a finalidade de discutir diretrizes para definição da Política da EA.
1992
Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, RIO -92. O MEC promoveu em Jacarepaguá um workshop com o objetivo de socializar os resultados das experiências nacionais e internacionais de EA, discutir metodologias e currículos. Do encontro resultou a Carta Brasileira para a Educação Ambiental.
1993
Portaria 773/93 do MEC, institui em caráter permanente um Grupo de Trabalho para EA com objetivo de coordenar, apoiar, acompanhar, avaliar e orientar as ações, metas e estratégias para a implementação da EA nos sistemas de ensino em todos os níveis e modalidades - concretizando as recomendações aprovadas na RIO -92.
1994
Proposta do Programa Nacional de Educação Ambiental - PRONEA, elaborada pelo MEC/MMA/MINC/MCT com o objetivo de “capacitar o sistema de educação formal e não-formal, supletivo e profissionalizante, em seus diversos níveis e modalidades.”
1995
Foi criada a Câmara Técnica temporária de Educação Ambiental no Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, determinante para o fortalecimento da Educação Ambiental.
1996
Lei nº 9.276/96 que estabelece o Plano Plurianual do Governo 1996/1999, define como principais objetivos da área de Meio Ambiente a “promoção da Educação Ambiental,através da divulgação e uso de conhecimentos sobre tecnologias de gestão sustentável dos recursos naturais”, procurando garantir a implementação do PRONEA.
A Coordenação de Educação Ambiental promove 3 cursos de Capacitação de Multiplicadores em Educação Ambiental - apoio do Acordo BRASIL/UNESCO, a fim de preparar técnicos das Secretarias Estaduais de Educação, Delegacias Regionais de Educação do MEC e algumas Universidades Federais, para atuarem no processo de inserção da Educação Ambiental no currículo escolar.
1997
Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade – Thessaloniki,1997 onde houve o reconhecimento que, passados cinco anos da Conferência Rio-92 , o desenvolvimento da EA foi insuficiente. Entretanto esse encontro foi beneficiado pelos numerosos encontros internacionais realizados em 1997, na Índia, Tailândia, México , Cuba, Brasil, Grécia entre outras. O Brasil apresentou o documento “Declaração de Brasília para a Educação Ambiental”, consolidado após a I conferência Nacional de Educação Ambiental – CNIA. Reconhece que a visão de educação e consciência pública foi enriquecida e reforçada pelas conferências internacionais e que os planos de ação dessas conferencias devem ser implementados pelos governos nacionais, sociedade civil (incluindo ONGs, empresas e a comunidade educacional), a ONU e outras organizações internacionais.
Elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs com o tema “Convívio Social, Ética e Meio Ambiente”, onde a dimensão ambiental é inserida como um tema transversal nos currículos do Ensino Fundamental.
A Coordenação de Educação Ambiental do MEC promove 7 Cursos de Capacitação de Multiplicadores e 5 Teleconferências.
1998
A Coordenação de Educação Ambiental do MEC promove 8 Cursos de Capacitação de Multiplicadores, 5 teleconferências, 2 Seminários Nacionais e produz 10 vídeos para serem exibidos pela TV Escola.Ao final deste ano, a Coordenação de Educação Ambiental é inserida na Secretaria de Ensino Fundamental - SEF no MEC, após reforma administrativa.
1999
Promulgada a Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999 que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, a que deverá ser regulamentada após as discussões na Câmara Técnica Temporária de Educação Ambiental no CONAMA.
Portaria 1648/99 do MEC cria o Grupo de Trabalho com representantes de todas as suas Secretarias para discutir a regulamentação da Lei nº 9795/99MEC propõe o Programa PCNs em Ação atendendo às solicitações dos Estados. Meio Ambiente uns dos temas transversais, será trabalhado no ano 2000.
2009
Conferencia em Copenhague onde líderes mundiais discutiram propostas para reduzir emissões de gases poluentes, causadores do chamado efeito estufa.
Perspectivas/opinião
Educação ambiental é uma modalidade da educação que tem como objetivo a conscientização do homem sobre o ambiente que o cerca, transmitindo as informações necessárias para que ele conheça as características da natureza e dos diversos elementos que a compõem.
Esta modalidade de educação é um processo longo e contínuo de aprendizagem, pois utiliza meios que devem levar em consideração o contexto em que o indivíduo está inserido, ou seja, sua cultura, sua comunidade e suas relações sociais. Fazendo com que ele entenda como suas atividades podem interferir no equilíbrio dos ecossistemas, mostrando-lhe os problemas que podem ser gerados localmente e também a nível global.
A educação ambiental se faz necessária porque somente através da compreensão do meio ambiente e de suas relações com ele, o homem consegue desenvolver técnicas e habilidades para conviver em harmonia com a natureza. Garantindo a sobrevivência das espécies, a preservação dos recursos e a continuidade da vida no planeta.
Definição
O conceito de Educação Ambiental varia de interpretações, de acordo com cada contexto, conforme a influência e vivência de cada um. Para muitos, a Educação Ambiental restringe-se em trabalhar assuntos relacionados à natureza: lixo, preservação, paisagens naturais, animais, etc. Dentro deste enfoque, a Educação Ambiental assume um caráter basicamente naturalista.
Atualmente, a Educação Ambiental assume um caráter mais realista, embasado na busca de um equilíbrio entre o homem e o ambiente, com vista à construção de um futuro pensado e vivido numa lógica de desenvolvimento e progresso (pensamento positivista). Neste contexto, a Educação Ambiental é ferramenta de educação para o desenvolvimento sustentável (apesar de polêmico o conceito de desenvolvimento sustentável, tendo em vista ser o próprio "desenvolvimento" o causador de tantos danos sócio-ambientais).
Ampliando a maneira de perceber a Educação Ambiental podemos dizer que se trata de uma prática de educação para a sustentabilidade. Para muitos especialistas, uma Educação Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável é severamente criticada pela dicotomia existente entre "desenvolvimento e sustentabilidade". Para perceber a abrangência e o significado da Educação Ambiental é preciso uma forma de pensar mais complexa – da teoria moriniana. Só assim será possível a evolução deste conceito ao seu amplo significado.
O CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente - define a Educação Ambiental como um processo de formação e informação orientado para o desenvolvimento da consciência critica sobre as questões ambientais, e de atividades que levem à participação das comunidades na preservação do equilíbrio ambiental.
A Lei Federal nº 9.795 define a Educação Ambiental como “o processo por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (art.1º, Lei Federal nº 9.795, de 27/4/99)
Para a UNESCO “A educação ambiental é um processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, habilidades, experiências, valores e a determinação que os tornam capazes de agir, individual ou coletivamente, na busca de soluções para os problemas ambientais, presentes e futuros.
Para Aziz Ab’ Saber a “Educação Ambiental é um processo que envolve um vigoroso esforço de recuperação de realidades e que garante um compromisso com o futuro. Uma ação entre missionária utópica destinada a reformular comportamentos humanos e recriar valores perdidos ou jamais alcançados. Trata-se de um novo ideário comportamental, tanto no âmbito individual quanto coletivo”.
Atualmente a Educação Ambiental é subdividida em formal e informal.
• Formal é um processo institucionalizado que ocorre nas unidades de ensino;
• Informal caracteriza-se por sua realização fora da escola, envolvendo flexibilidade de métodos e de conteúdos e um público alvo muito variável em suas características (faixa etária, nível de escolaridade, nível de conhecimento da problemática ambiental, etc.).
Para se atingir o que a Educação Ambiental realmente almeja é absolutamente necessário interligar esses dois aspectos citados, contribuindo para que os conhecimentos aprendidos dentro de um "ensino formal" possam ser aplicados pelas ações extraclasse; contribuindo simultaneamente com o desenvolvimento dos conhecimentos já adquiridos e para a tomada de consciência nas atitudes e competências necessárias à conservação, preservação do ambiente e melhoria de vida.
Histórico
O debate acerca dos problemas ambientais não é recente. Em 1962, o livro Primavera Silenciosa da jornalista Rachel Carson provocou uma grande inquietação internacional sobre a temática ambiental. A autora relatou uma seqüência de desastres ambientais, em várias partes do mundo, causados por absoluto descuido dos setores industriais .
Em março de 1965, educadores reunidos na Conferência de Keele, na Grã-Bretanha, concordavam que a dimensão ambiental deveria ser abordada imediatamente na escola, fazendo parte da educação de todos os cidadãos, surgindo dessa forma à expressão Educação Ambiental– EA. Em 1970, a Sociedade Audubon publicaria Um lugar para viver, um manual para professores que incorporava a dimensão ambiental em várias atividades curriculares e viria a se tomar um clássico da literatura sobre EA.
Na seqüência dos fatos históricos em 1972, o Clube de Roma publicou o relatório, Os limites do crescimento econômico, denunciando que o crescente consumo mundial levaria a humanidade a um limite de crescimento e, possivelmente, a um colapso. Em conseqüência da repercussão internacional desse relatório foi realizada, neste mesmo ano, a Conferência da Organização Nações Unidas– ONU sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo, reunindo representantes de 113 países. Foi nessa conferência a primeira vez na história da humanidade em que o tema ambiental e a necessidade de compatibilizar a economia com o manejo sustentável de recursos naturais foram incorporados na agenda política internacional.
Sendo assim, a EA surge no nosso país muito antes da sua institucionalização no governo federal. Através de artigos de autores brasileiros e de um persistente movimento conservacionista, em 1970, fundava-se no Brasil a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, precursora de movimentos ambientalistas em nosso território, quando ainda não tínhamos nem mesmo uma legislação ambiental, como a maioria das nações.
Um desafio interessante ocorre nas décadas de 60/70, quando o Regime Militar coibia o debate político e as ações coletivas, onde a temática social não fazia parte da pauta educacional. O ambientalismo representava um obstáculo à consolidação da nova ideologia nacional‖, baseada na busca contraditória do desenvolvimento econômico. A EA, nesse período, desenvolvia-se sob os marcos do naturalismo, desprovido de debate político que articulasse as questões ambientais às socioeconômicas.
Dessa forma, no início dos anos 70 ocorre a emergência de um ambientalismo que se une às lutas pelas liberdades democráticas, que se manifesta através da ação isolada de professores, estudantes e escolas, por meio de pequenas ações de organizações da sociedade civil ou mesmo de prefeituras municipais e governos.
Histórico da Educação Ambiental
Década de 60
1962
Livro “Primavera Silenciosa” de Rachel Carson - alertava sobre os efeitos danosos de inúmeras ações humanas sobre o ambiente, como por exemplo o uso de pesticidas.
1968
Nasce o Conselho para Educação Ambiental, no Reino Unido. Neste mesmo ano, surge o Clube de Roma que em 1972, produz o relatório “Os Limites do Crescimento Econômico” que estudou ações para se obter no mundo um equilíbrio global como a redução do consumo tendo em vista determinadas prioridades sociais.
Década de 70
1970
Entidade relacionada à revista britânica The Ecologist elabora o “Manifesto para Sobrevivência” onde insistiam que um aumento indefinido de demanda não pode ser sustentado por recursos finitos.
1972
Conferência das Nações sobre o Ambiente Humano, Estocolmo. Os principais resultados formais do encontro constituíram a Declaração sobre o Ambiente Humano ou Declaração de Estocolmo que expressa a convicção de que “tanto as gerações presentes como as futuras, tenham reconhecidas como direito fundamental, a vida num ambiente sadio e não degradado”(Tamanes - 1977). Ainda como resultado da Conferência de Estocolmo, neste mesmo ano a ONU criou um organismo denominado Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente -PNUMA, sediado em Nairobi.
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul criou o primeiro curso de pós-graduação em Ecologia do país.
1975
Em resposta às recomendações da Conferência de Estocolmo, A UNESCO promoveu em Belgrado (Iugoslávia) um Encontro Internacional em Educação Ambiental onde criou o Programa Internacional de Educação Ambiental - PIEA que formulou os seguintes princípios orientadores : a Educação Ambiental deve ser continuada, multidisciplinar, integrada às diferenças regionais e voltada para os interesses nacionais.Carta de Belgrado - constitui um dos documentos mais lúcidos e importantes gerados nesta década. Fala sobre a satisfação das necessidades e desejos de todos os cidadãos da Terra. Propõe temas que falam que a erradicação das causas básicas da pobreza como a fome, o analfabetismo, a poluição, a exploração e dominação, devam ser tratados em conjunto. Nenhuma nação deve se desenvolver as custas de outra nação, havendo necessidade de uma ética global. A reforma dos processos e sistemas educacionais é central para a constatação dessa nova ética de desenvolvimento. A juventude deve receber um novo tipo de educação que requer um novo e produtivo relacionamento entre estudantes e professores, entre escolas e comunidade, entre o sistema educacional e sociedade. Finaliza com a proposta para um programa mundial de Educação Ambiental.
1976
Criação dos cursos de pós-graduação em Ecologia nas Universidades do Amazonas, Brasília, Campinas, São Carlos e o Instituto Nacional de Pesquisas Aéreas - INPA em São José dos Campos.
1977
Realizada a Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental em Tbilisi (ex-URSS) organizada pela UNESCO com a colaboração do PNUMA. Foi o ponto culminante da primeira fase do Programa Internacional de Educação Ambiental, iniciado em 1975. Definiu-se os objetivos, as características da EA, assim como as estratégias pertinentes no plano nacional e internacional.
No Brasil, o Conselho Federal de Educação tornou obrigatória a disciplina Ciências Ambientais em cursos universitários de Engenharia.
1978
Os cursos de Engenharia Sanitária já inseriam as matérias de Saneamento Básico e Saneamento Ambiental.
1979
Realização do Seminário de Educação Ambiental para América Latina realizado pela UNESCO e PNUMA na Costa Rica.
O departamento do Ensino Médio/MEC e a CETESB publicam o documento “Ecologia - Uma proposta para o Ensino de 1º e 2º graus”.
Década de 80
1985
Parecer 819/85 do MEC reforça a necessidade da inclusão de conteúdos ecológicos ao longo do processo de formação do ensino de 1º e 2º graus, integrados a todas as áreas do conhecimento de forma sistematizada e progressiva, possibilitando a “formação da consciência ecológica do futuro cidadão”.
1987
Estratégia Internacional de ação em matéria de educação e formação ambiental para o decênio de 90 - documento final do Congresso Internacional sobre Educação e Formação Relativas ao Meio-ambiente, realizado em 1987 em Moscou, Rússia, promovido pela UNESCO. Ressalta a importância da formação de recursos humanos nas áreas formais e não formais da EA e na inclusão da dimensão ambiental nos currículos de todos os níveis.
Plenário do Conselho Federal de Educação aprovou por unanimidade, a conclusão da Câmara de Ensino a respeito do parecer 226/87 que considerava necessária a inclusão da Educação Ambiental dentre os conteúdos a serem explorados nas propostas curriculares das escolas de 1º e 2º graus, bem como sugeria a criação de Centros de Educação Ambiental.
A UNESCO/PNUMA realizou em Moscou o Congresso Nacional sobre Educação e Formação Ambientais - UNESCO/PNUMA onde foram analisadas as conquistas e dificuldades na área de EA desde a conferência de Tbilisi e discutido uma estratégia internacional de ação em educação e formação ambientais para a década de 90.
1988
Constituição da República Federativa do Brasil dedicou o Capítulo VI ao Meio Ambiente e no Art. 225, Inciso VI, determina ao “... Poder Público, promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino...”.
Realização do Primeiro Congresso Brasileiro de Educação Ambiental no Rio Grande do Sul.
Realização do Primeiro Fórum de Educação Ambiental promovido pela CECAE/USP, que mais tarde foi assumido pela Rede Brasileira de Educação Ambiental.
1989
Realização da 3º Conferência Internacional sobre Educação Ambiental para as Escolas de 2º Grau com o tema Tecnologia e Meio Ambiente, em Illinois/USA.
Década de 90
1990
A Declaração Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem, aprovada na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada Jontien, Tailândia, de 5 a 9 de março de 1990, reitera: “confere aos membros de uma sociedade a possibilidade e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de respeitar e desenvolver a sua herança cultural, lingüística e espiritual, de promover a educação de outros, de defender a causa da justiça social, de proteger o meio ambiente....”
1991
Portaria 678/91 do MEC, determinou que a educação escolar deveria contemplar a Educação Ambiental permeando todo o currículo dos diferentes níveis e modalidades de ensino. Foi enfatizada a necessidade de investir na capacitação de professores.
Portaria 2421 /91 do MEC, institui em caráter permanente um Grupo de Trabalho de EA com o objetivo de definir com as Secretarias Estaduais de Educação, as metas e estratégias para a implantação da EA no país e elaborar proposta de atuação do MEC na área da educação formal e não-formal para a Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Encontro Nacional de Políticas e Metodologias para a Educação Ambiental, promovido pelo MEC e SEMA com apoio da UNESCO/Embaixada do Canadá em Brasília, com a finalidade de discutir diretrizes para definição da Política da EA.
1992
Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, RIO -92. O MEC promoveu em Jacarepaguá um workshop com o objetivo de socializar os resultados das experiências nacionais e internacionais de EA, discutir metodologias e currículos. Do encontro resultou a Carta Brasileira para a Educação Ambiental.
1993
Portaria 773/93 do MEC, institui em caráter permanente um Grupo de Trabalho para EA com objetivo de coordenar, apoiar, acompanhar, avaliar e orientar as ações, metas e estratégias para a implementação da EA nos sistemas de ensino em todos os níveis e modalidades - concretizando as recomendações aprovadas na RIO -92.
1994
Proposta do Programa Nacional de Educação Ambiental - PRONEA, elaborada pelo MEC/MMA/MINC/MCT com o objetivo de “capacitar o sistema de educação formal e não-formal, supletivo e profissionalizante, em seus diversos níveis e modalidades.”
1995
Foi criada a Câmara Técnica temporária de Educação Ambiental no Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, determinante para o fortalecimento da Educação Ambiental.
1996
Lei nº 9.276/96 que estabelece o Plano Plurianual do Governo 1996/1999, define como principais objetivos da área de Meio Ambiente a “promoção da Educação Ambiental,através da divulgação e uso de conhecimentos sobre tecnologias de gestão sustentável dos recursos naturais”, procurando garantir a implementação do PRONEA.
A Coordenação de Educação Ambiental promove 3 cursos de Capacitação de Multiplicadores em Educação Ambiental - apoio do Acordo BRASIL/UNESCO, a fim de preparar técnicos das Secretarias Estaduais de Educação, Delegacias Regionais de Educação do MEC e algumas Universidades Federais, para atuarem no processo de inserção da Educação Ambiental no currículo escolar.
1997
Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade – Thessaloniki,1997 onde houve o reconhecimento que, passados cinco anos da Conferência Rio-92 , o desenvolvimento da EA foi insuficiente. Entretanto esse encontro foi beneficiado pelos numerosos encontros internacionais realizados em 1997, na Índia, Tailândia, México , Cuba, Brasil, Grécia entre outras. O Brasil apresentou o documento “Declaração de Brasília para a Educação Ambiental”, consolidado após a I conferência Nacional de Educação Ambiental – CNIA. Reconhece que a visão de educação e consciência pública foi enriquecida e reforçada pelas conferências internacionais e que os planos de ação dessas conferencias devem ser implementados pelos governos nacionais, sociedade civil (incluindo ONGs, empresas e a comunidade educacional), a ONU e outras organizações internacionais.
Elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs com o tema “Convívio Social, Ética e Meio Ambiente”, onde a dimensão ambiental é inserida como um tema transversal nos currículos do Ensino Fundamental.
A Coordenação de Educação Ambiental do MEC promove 7 Cursos de Capacitação de Multiplicadores e 5 Teleconferências.
1998
A Coordenação de Educação Ambiental do MEC promove 8 Cursos de Capacitação de Multiplicadores, 5 teleconferências, 2 Seminários Nacionais e produz 10 vídeos para serem exibidos pela TV Escola.Ao final deste ano, a Coordenação de Educação Ambiental é inserida na Secretaria de Ensino Fundamental - SEF no MEC, após reforma administrativa.
1999
Promulgada a Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999 que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, a que deverá ser regulamentada após as discussões na Câmara Técnica Temporária de Educação Ambiental no CONAMA.
Portaria 1648/99 do MEC cria o Grupo de Trabalho com representantes de todas as suas Secretarias para discutir a regulamentação da Lei nº 9795/99MEC propõe o Programa PCNs em Ação atendendo às solicitações dos Estados. Meio Ambiente uns dos temas transversais, será trabalhado no ano 2000.
2009
Conferencia em Copenhague onde líderes mundiais discutiram propostas para reduzir emissões de gases poluentes, causadores do chamado efeito estufa.
Perspectivas/opinião
Educação ambiental é uma modalidade da educação que tem como objetivo a conscientização do homem sobre o ambiente que o cerca, transmitindo as informações necessárias para que ele conheça as características da natureza e dos diversos elementos que a compõem.
Esta modalidade de educação é um processo longo e contínuo de aprendizagem, pois utiliza meios que devem levar em consideração o contexto em que o indivíduo está inserido, ou seja, sua cultura, sua comunidade e suas relações sociais. Fazendo com que ele entenda como suas atividades podem interferir no equilíbrio dos ecossistemas, mostrando-lhe os problemas que podem ser gerados localmente e também a nível global.
A educação ambiental se faz necessária porque somente através da compreensão do meio ambiente e de suas relações com ele, o homem consegue desenvolver técnicas e habilidades para conviver em harmonia com a natureza. Garantindo a sobrevivência das espécies, a preservação dos recursos e a continuidade da vida no planeta.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Entrevista com Michele Sato
1. A EA de hoje está melhor ou pior que a EA de 20 anos atrás? Por quê?
Michèle:
Não acredito que exista este parâmetro comparativo entre passado e presente. Em cada época, contexto e fôlego, cada qual faz sua história. Vestidos de farrapos ou na nudez de cada época, os protagonistas se aventuram com suas forças, projetando seus sonhos. Seria injusto desprezar o passado, como se pudéssemos lançar a pergunta se somos melhores do que nossos próprios pais. Certamente eles dirão que sim, e como mãe, também daria mesma resposta em relação aos meus filhos. Mas o movimento ecologista requer um cuidadoso reconhecimento de lutas pretéritas e das esperanças tecidas que ainda não finalizaram. Entretanto, como tudo na vida (ou na maioria de suas coisas), vinte anos representam uma temporalidade de maturação, avaliação e mudanças de táticas. Erramos muito no passado, e negligenciamos diversas temáticas. Contudo, graças a estes tropeços, a geração atual também aprendeu pelos erros.
Em outras palavras, há erros e acertos sempre, independente de qual tempo estamos inscritos. E a boniteza da alma é reavivar a memória, dinamizar-se, permitir que o congelamento não nos cegue. Os velhos precisam aprender com os jovens, mas a recíproca também é verdadeira. Nos sítios arqueológicos ou no futurismo cósmico, as incertezas existem. Descobrimos a cada instante, seja revisitando o passado, seja prevendo o futuro. Beleza e feiúra se conjugam de mãos dadas e não há um melhor que o outro. Na ciranda da vida, Paulo Freire diria que há somente ‘saberes diferentes’.
2. O que está faltando para a EA brasileira ser “foda”?
Michèle:
Uma Frente de Oposição à Direção Atual (FODA)? Considerar a Educação Ambiental implica em inscrevê-la num círculo interligado ao momento político da sociedade. A Educação Ambiental não é uma ilha isolada do sistema e não pode ser vitoriosa isoladamente, do contrário, estaremos sendo cegos em promovê-la sem diálogos abertos com as sociedades sustentáveis que desejamos construir. Nunca a civilização testemunhou uma época tão fugaz, fugia e eminentemente pública. Os acontecimentos ocorrem de forma paulatina e não conseguimos mais nem ler os velhos jornais por inteiro. Inúmeras informações chegam em nossas caixas postais, nos assombrando ao grande desafio mundial: participação efetiva e não meramente representativa. Reuniões de redes ou ONG são esvaziadas, fóruns universitários não dão quorum e os impactos ambientais crescem em contramão às nossas especializações.
Estaremos silenciados pelo medo? Acredito que não. Estamos tateando, buscando construir qual é o melhor caminho para atuar, errar menos, ser mais tático. De fato, não sabemos como agir nesta era tão mutante. Estamos, velhos e jovens, em pleno processo de construção e não há varinha mágica que acene receitas, dê veredictos únicos ou métodos infalíveis.
Muita gente atribui o fracasso da educação ambiental à falta de informação. Infelizmente não penso desta maneira. Os veículos de comunicação de massa estão a todo vapor, escolas, informativos e o mundo informático estão cheios destas informações. O mais desesperador talvez seja encontrar sempre a meia dúzia de pessoas que sempre estão nos encontros ambientais, seja de que caráter tenha. E este panorama local se repete no cenário nacional e internacional. O círculo é vicioso, mas não sei como o tornaria em um círculo virtuoso, senão pelas minhas próprias tentativas de assumir as 3 ecologias do Gattari, coincidentes com a fenomenologia MPontyana:
1. ECOLOGIA MENTAL (EU) - de saciar as sedes existenciais na esperança do devir, do reconhecer que os erros são normais e que a perfeição simplesmente não existe. Do acolher limites, tropeços e caos para que o infinito, os acertos e a harmonia sejam possíveis na dinâmica do ciclo da vida e morte.
2. ECOLOGIA SOCIAL (OUTRO) - de respeitar o erudito, sabendo abrir fendas para que o popular seja acolhido. Lutar para que a inclusão social seja realmente ampla e democrática, sabendo respeitar as diferenças desde as empresas até os povos indígenas. Ampliar a bandeira da justiça ambiental, promover a multiculturalidade, tolerância, “com-vivência” e solidariedade.
3. ECOLOGIA AMBIENTAL (MUNDO) - de assumir que a natureza jamais poderá ser vista como mero “recurso natural”, senão como uma teia tecida em mosaicos de vidas e não vidas. Da ultrapassagem do antropocentrismo, do acolher diálogos, tentando superar o dilema tardio de Platão em ser uno e simultaneamente múltiplo.
3. Como você a EA daqui a 10 anos? Como ela estará?
Michèle:
Eu sempre a esperarei vê-la lindamente construída, ontem, hoje e amanhã. Qualquer que seja a temporalidade, que ela supere a tirania do calendário imposto por Chronos e roube o mito de Kairos, igualmente senhor do tempo, mas que falava em tempo pelo ritmo dos corações e não de relógios. Que a afetividade, amorosidade e generosidade também possam ser acolhidas nas lutas, onde as ciências podem (e devem) dialogar com as artes.
Que a infância, adolescência, maturação e velhice sejam conjugadas a um só tempo nas máscaras modeladas pelas nossas fantasias, entre a alegoria do carnaval de ruas e o choro do dia seguinte do pierrô abandonado. E que os retalhos sejam considerados no mosaico de cores, jamais desprezados. Que os espelhos reflitam a arqueologia pretérita para que as possibilidades futuras não sejam tão cicatrizadas, com sangue jorrando, injustiças atrozes, perversidades da vida...
Que o cheiro da chuva exale o perfume do sol, porque reconhecemos que o arco-íris é sempre incerto, deslizando em céus azuis sem início ou fim, apenas pairando em sonhos etéreos de palavras, linguagens ou silêncios inefáveis assoprados pela brisa.
Que a Educação Ambiental continue a zelar pela Terra, em sua maior magnitude da beleza inacabada, porque a luta sempre refletirá para que o futuro exista, exalado em aromas de sabores no pulsar das esperanças...
Michèle:
Não acredito que exista este parâmetro comparativo entre passado e presente. Em cada época, contexto e fôlego, cada qual faz sua história. Vestidos de farrapos ou na nudez de cada época, os protagonistas se aventuram com suas forças, projetando seus sonhos. Seria injusto desprezar o passado, como se pudéssemos lançar a pergunta se somos melhores do que nossos próprios pais. Certamente eles dirão que sim, e como mãe, também daria mesma resposta em relação aos meus filhos. Mas o movimento ecologista requer um cuidadoso reconhecimento de lutas pretéritas e das esperanças tecidas que ainda não finalizaram. Entretanto, como tudo na vida (ou na maioria de suas coisas), vinte anos representam uma temporalidade de maturação, avaliação e mudanças de táticas. Erramos muito no passado, e negligenciamos diversas temáticas. Contudo, graças a estes tropeços, a geração atual também aprendeu pelos erros.
Em outras palavras, há erros e acertos sempre, independente de qual tempo estamos inscritos. E a boniteza da alma é reavivar a memória, dinamizar-se, permitir que o congelamento não nos cegue. Os velhos precisam aprender com os jovens, mas a recíproca também é verdadeira. Nos sítios arqueológicos ou no futurismo cósmico, as incertezas existem. Descobrimos a cada instante, seja revisitando o passado, seja prevendo o futuro. Beleza e feiúra se conjugam de mãos dadas e não há um melhor que o outro. Na ciranda da vida, Paulo Freire diria que há somente ‘saberes diferentes’.
2. O que está faltando para a EA brasileira ser “foda”?
Michèle:
Uma Frente de Oposição à Direção Atual (FODA)? Considerar a Educação Ambiental implica em inscrevê-la num círculo interligado ao momento político da sociedade. A Educação Ambiental não é uma ilha isolada do sistema e não pode ser vitoriosa isoladamente, do contrário, estaremos sendo cegos em promovê-la sem diálogos abertos com as sociedades sustentáveis que desejamos construir. Nunca a civilização testemunhou uma época tão fugaz, fugia e eminentemente pública. Os acontecimentos ocorrem de forma paulatina e não conseguimos mais nem ler os velhos jornais por inteiro. Inúmeras informações chegam em nossas caixas postais, nos assombrando ao grande desafio mundial: participação efetiva e não meramente representativa. Reuniões de redes ou ONG são esvaziadas, fóruns universitários não dão quorum e os impactos ambientais crescem em contramão às nossas especializações.
Estaremos silenciados pelo medo? Acredito que não. Estamos tateando, buscando construir qual é o melhor caminho para atuar, errar menos, ser mais tático. De fato, não sabemos como agir nesta era tão mutante. Estamos, velhos e jovens, em pleno processo de construção e não há varinha mágica que acene receitas, dê veredictos únicos ou métodos infalíveis.
Muita gente atribui o fracasso da educação ambiental à falta de informação. Infelizmente não penso desta maneira. Os veículos de comunicação de massa estão a todo vapor, escolas, informativos e o mundo informático estão cheios destas informações. O mais desesperador talvez seja encontrar sempre a meia dúzia de pessoas que sempre estão nos encontros ambientais, seja de que caráter tenha. E este panorama local se repete no cenário nacional e internacional. O círculo é vicioso, mas não sei como o tornaria em um círculo virtuoso, senão pelas minhas próprias tentativas de assumir as 3 ecologias do Gattari, coincidentes com a fenomenologia MPontyana:
1. ECOLOGIA MENTAL (EU) - de saciar as sedes existenciais na esperança do devir, do reconhecer que os erros são normais e que a perfeição simplesmente não existe. Do acolher limites, tropeços e caos para que o infinito, os acertos e a harmonia sejam possíveis na dinâmica do ciclo da vida e morte.
2. ECOLOGIA SOCIAL (OUTRO) - de respeitar o erudito, sabendo abrir fendas para que o popular seja acolhido. Lutar para que a inclusão social seja realmente ampla e democrática, sabendo respeitar as diferenças desde as empresas até os povos indígenas. Ampliar a bandeira da justiça ambiental, promover a multiculturalidade, tolerância, “com-vivência” e solidariedade.
3. ECOLOGIA AMBIENTAL (MUNDO) - de assumir que a natureza jamais poderá ser vista como mero “recurso natural”, senão como uma teia tecida em mosaicos de vidas e não vidas. Da ultrapassagem do antropocentrismo, do acolher diálogos, tentando superar o dilema tardio de Platão em ser uno e simultaneamente múltiplo.
3. Como você a EA daqui a 10 anos? Como ela estará?
Michèle:
Eu sempre a esperarei vê-la lindamente construída, ontem, hoje e amanhã. Qualquer que seja a temporalidade, que ela supere a tirania do calendário imposto por Chronos e roube o mito de Kairos, igualmente senhor do tempo, mas que falava em tempo pelo ritmo dos corações e não de relógios. Que a afetividade, amorosidade e generosidade também possam ser acolhidas nas lutas, onde as ciências podem (e devem) dialogar com as artes.
Que a infância, adolescência, maturação e velhice sejam conjugadas a um só tempo nas máscaras modeladas pelas nossas fantasias, entre a alegoria do carnaval de ruas e o choro do dia seguinte do pierrô abandonado. E que os retalhos sejam considerados no mosaico de cores, jamais desprezados. Que os espelhos reflitam a arqueologia pretérita para que as possibilidades futuras não sejam tão cicatrizadas, com sangue jorrando, injustiças atrozes, perversidades da vida...
Que o cheiro da chuva exale o perfume do sol, porque reconhecemos que o arco-íris é sempre incerto, deslizando em céus azuis sem início ou fim, apenas pairando em sonhos etéreos de palavras, linguagens ou silêncios inefáveis assoprados pela brisa.
Que a Educação Ambiental continue a zelar pela Terra, em sua maior magnitude da beleza inacabada, porque a luta sempre refletirá para que o futuro exista, exalado em aromas de sabores no pulsar das esperanças...
Michele Sato

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL TECIDA PELAS TEORIAS BIORREGIONAIS
Michèle Sato
Imaginemos uma localidade rural, distante dos ruídos das fábricas, fumaças de
poluição, outdoor do MacDonald, ou atropelamentos marcados pela inabilidade humana em se promover atenção à solidariedade no trânsito. Há um recanto dos pássaros, de tuiuiús com ninho na copa de uma árvore, sofrendo pela envergadura de suas grandes asas e que, inevitavelmente, esbarram nos primeiros fios elétricos que trazem a modernidade em uma região distante dos modos de vida da sociedade branca, capitalista e ocidentalizada em sua urbanidade. Esta região não está esquecida, seus habitantes fazem parte dos números que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) contabiliza para aferir o índice de Desenvolvimento Humano (IDH), através de somente três indicadores: longevidade, escolaridade e Produto Interno Bruto (PIB). Seus habitantes recusam ser excluídos da “qualidade de vida” e, teimosamente, lutam para que suas vidas
sejam narradas - talvez para eles, Gabriel García Marques tenha razão: a vida não é apenas para ser vivida, mas deve ser lembrada e eloquentemente narrada para que não se perca o fio da história.
A pequena narrativa deste texto é sobre uma comunidade chamada Mimoso, que carrega sua trilha na carne e no coração de seus habitantes. Vilarejo pobre, sua dor se mistura com o canto dos cardeais, nos reflexos solares nas águas da baía Mariana, da verde gramínea que originou seu nome, e nas espécies vivas que preenchem o alvorecer da esperança. Mimoso é também um local de seres encantados, com símbolos recriados pela memória viva de geração a geração, e também de padroeiros, santos e milagres que permitem que o local jamais seja
abandonado. No mosaico biorregional Pantaneiro, uma mítica de lendas e “causos” alia-se à espiritualidade, revelando padroeiros à pesca, ao tempo bom, à terra fértil ou ao anúncio da chuva. Minhocão, Pé de garrafa, Tchá Mariana e outros seres encantados habitam o Pantanal, anunciando que as expressões culturais se aliam à dinâmica da natureza.
As mulheres rendeiras já abandonaram a concorrência com as redes têxteis das indústrias, que oferecem preços mais baixos na desleal competição de mercado. Os homens já não vivem mais da pesca e os casamentos consangüíneos estão cada vez menos freqüentes. O centro da comunidade é a escola Santa Claudina, que recebeu este nome em homenagem à mãe do então herói regional, Cândido Mariano Rondon. Mimoso não quer sucumbir ao processo desintegrador, e os conflitos diários, entre a fome e os impactos ambientais, clamam pela sobrevivência digna das empoeiradas prateleiras com fotografias antigas, registros amarelados na tirania do tempo que se tornam labirintos sem fronteiras. Na parede da sala, fotografias de artistas se misturam em recortes de revistas, entre Xuxa, Brad Pitt, aviões, futebol e uma variedade de santos e santas que buscam em sua mítica, seu jeito próprio de tecer esperanças.
É neste espaço da casa que a mítica pantaneira revela seus segredos, mas longe de ser um santuário intocável, a exemplo do seu status de “patrimônio da humanidade”, a santidade semiológica se entrecruza com a exuberância ecológica, revelando o sentido etimológico do santuário: é como se as raízes das árvores e da vegetação pantaneira mergulhassem na terra com sua copa tocando o céu. E no meio deste espaço, concretiza o território intermediário da luta humana protegida pelas suas divindades.
Seria um equívoco acreditar que a religiosidade da biorregião mascara a luta
política explícita na vida mimoseana. Inserida em projetos de Educação Ambiental (EA),Mimoso se recusa a aceitar o inexorável movimento da globalização, projetada na homogeneidade da solidariedade absoluta entre todos os povos, da eliminação das diferenças e da pulsação que segrega o local do global. Heidegger diria que entre o desejo do ideal e o concreto do real há um enorme abismo que necessita ser superado. A mudança de uma sobrevivência predatória a uma vida ética requer instrumentos e educação ainda em plena construção local. Isso não implica, entretanto, desprezar a cidadania planetária, mas antes, institui-se o desafio de sermos realmente justos em construir a requerida cidadania local.
Compreendemos que na riqueza das experiências realizadas no projeto comunitário de EA, há também o paradoxo da estagnação. Se alguns olhares percebem o conhecimento indígena ou popular como “tradicionais”, ou “primitivos”, é preciso problematizar que esta assimetria esconde uma hierarquia perversa da superioridade de quem estabelece e determina a contemporaneidade. A contração do mundo, sob a égide dos controles dominadores, “esconde a riqueza das experiências sociais do mundo... pois as entidades ou experiências específicas estão aprisionadas em escalas que as incapacitam serem alternativas credíveis na racionalidade universal e dominante” (SANTOS, 2000, p. 49).
Assim como as correntes filosóficas gerais, o biorregionalismo também tem suas várias características. Historicamente, ele nasceu nos Estados Unidos, em plena efervescência da contracultura, no contexto das comunidades alternativas da Califórnia, que buscaram um estilo alternativo de vida e se consagrou como parte da chamada “Ecologia Profunda” (ALEXANDER, 1996). Em oposição à ausência de sensibilidade ecológica, centralizada na espécie humana (antropocentrismo), a ecologia profunda reivindica pela ética da vida em sua plenitude (biocentrismo).
Alguns autores acreditam que o amor pela terra de certas comunidades não foi fruto do movimento ecológico marcado pela contracultura, mas pela ausência de opção na vida urbana que rege o princípio do desenvolvimento. Sua trajetória, assim, não foi em linha reta - enquanto alguns ainda buscam esta alternativa de vida, através da permacultura, hábito alimentar natural, ou modo de vida menos consumista, outros trilharam por um posicionamento mais político da história local, interpretando culturas e comunidades sem negligenciar o ambiente natural circundante das regiões. É nesta segunda vertente que adentramos no mundo da Educação Ambiental (EA).
Rompendo com a tradicional visão determinista que condena certa região, a opção
filosófica é tentar perceber um local com características geográficas e biológicas inscritas numa história de vida. No cenário da globalização, o biorregionalismo é uma tentativa, entre tantas outras possibilidades, de construir identidades fora dos centros hegemônicos, na relevância das lutas políticas em locais e territórios singulares. As metanarrativas pulverizaram as diferenças, dando homogeneidade ao todo e suas partes. A Educação Ambiental inscrita no biorregionalismo reforça que a experiência social é variada e múltipla, e para além do veredicto das ciências, do controle econômico ou da exclusão social, pretende buscar alternativas que possibilite o não desperdício das vivências locais. É a esperança de escrever um texto cultural (GEERTZ, 2002), vestido de farrapos ou a moda de uma era, mas que contemple a etnografia sem medo da solidão, do desconforto físico ou da paciência em encontrar o fascínio cultural escrito na natureza.
Alguns autores acreditam que o amor pela terra de certas comunidades não foi fruto do movimento ecológico marcado pela contracultura, mas pela ausência de opção na vida urbana que rege o princípio do desenvolvimento. Sua trajetória, assim, não foi em linha reta - enquanto alguns ainda buscam esta alternativa de vida, através da permacultura, hábito alimentar natural, ou modo de vida menos consumista, outros trilharam por um posicionamento mais político da história local, interpretando culturas e comunidades sem negligenciar o ambiente natural circundante das regiões. É nesta segunda vertente que adentramos no mundo da Educação Ambiental (EA).
Rompendo com a tradicional visão determinista que condena certa região, a opção
filosófica é tentar perceber um local com características geográficas e biológicas inscritas numa história de vida. No cenário da globalização, o biorregionalismo é uma tentativa, entre tantas outras possibilidades, de construir identidades fora dos centros hegemônicos, na relevância das lutas políticas em locais e territórios singulares. As metanarrativas pulverizaram as diferenças, dando homogeneidade ao todo e suas partes. A Educação Ambiental inscrita no biorregionalismo reforça que a experiência social é variada e múltipla, e para além do veredicto das ciências, do controle econômico ou da exclusão social, pretende buscar alternativas que possibilite o não desperdício das vivências locais. É a esperança de escrever um texto cultural (GEERTZ, 2002), vestido de farrapos ou a moda de uma era, mas que contemple a etnografia sem medo da solidão, do desconforto físico ou da paciência em encontrar o fascínio cultural escrito na natureza.
Na ebulição deste século XXI, o que prevalece não é a ingenuidade da intocabilidade de santuários, mas a constatação de que as disparidades aumentam cada vez mais, pois os donos do poder não percebem “uma Terra solidária”, nem um “futuro comum” à construção do “desenvolvimento sustentável”. A injustiça social e ambiental no Brasil é fruto de um olhar imediatista e individualista das classes dominantes que operam mecanismos de exclusão social.
A Rede Internacional de Justiça Ambiental (ACSERALD, 2004) compreende a condição de existência política tendenciosa, cujos danos ambientais sempre afetam os grupos de trabalhadores, as populações de baixa renda, os segmentos raciais discriminados e as parcelas marginalizadas que são mais vulneráveis da chamada cidadania.No caso específico de Mimoso, que resguarda ainda suas expressões culturais aliadas à beleza natural, os grandes impactos ambientais asseveram drasticamente a população. A apropriação elitista de espaços e territórios exige a construção de uma nova temporalidade histórica que denuncie as disparidades e a concentração de renda somente nas mãos dos controladores do poder. Face às injustiças ainda pulsantes fortes em Mimoso, a EA assumida no interior do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental (GPEA) tem o compromisso de construir alternativas de vida digna, primordialmente no âmbito local, pela ousadia da invenção pedagógica capaz de criar e recriar movimentos de esperanças à tessitura da cidadania nacional.
O resgate às lendas e “causos” da localidade, bem como as narrativas de vida das pessoas evidenciaram o reconhecimento de que todo saber é igual por direito e a
formação do grupo pesquisador, entre a comunidade e a universidade, foi logo
possível. Adentrando nas oficinas sociopoéticas, teatros, expressões artísticas e
a aprendizagem com o corpo todo possibilitaram a formação de uma comunidade de aprendizagem que interpretava a dimensão ambiental na reinvenção educativa do fiar e desfiar democracia, entre os fóruns de discussões e reuniões de planejamento aos pequenos projetos comunitários. Estavam também presentes as reuniões de avaliação, da superação da premiação e do castigo para uma tessitura do reconhecimento dos potenciais e sua sustentabilidade, bem como a autocrítica em desvendar as falhas e buscar as táticas de superação. E, obviamente, as
festas comunitárias estavam muito vivas, na metodologia etnográfica que descarta a hierarquia de um festejo ao aconchego de um grupo pesquisador.
O que se descortinava no palco era a vontade de tecer indicadores que se situassem além da economia, e que, sobremaneira, abandonassem a visão paternalista de “geração de renda”, mas que se inscrevesse na ousadia da transformação. O sonho cidadão era construir uma linha de dignidade, que também pode ser interpretada como “não obedecer a nenhuma lei que não seja instituída por ele mesmo” (Kant apud ABBAGNANO, 1998, p.276). No marco da cidadania existencialista, que projeta a vida como meta, nunca apenas como meio, a linha de dignidade visa reduzir o espaço ambiental, estabelecendo um teto nas explorações da biorregião e um piso mínimo de vida digna.
As esperanças devem fluir por dentro da EA e animá-la, revelando que é possível aferir dignidade através do projeto de cidadania.Foi concordando com a frase de Jean Pierre Leroy (2005, p.24), que afirma que “a perda das raízes e da identidade é muito ligada à perda de uma relação com o meio ambiente”, que iniciamos compreendendo a percepção ambiental da comunidade, e vagarosamente, estamos construindo indicadores sociais qualitativos que possam oferecer uma identidade na “qualidade de vida” da biorregião. Para além das duvidosas orientações internacionais, a noção de dignidade aproximou-se da cidadania, na tessitura conceitual da linha de dignidade da biorregião.
Na contemplação desta paisagem, bem aquém de um santuário ecológico, é possível que a fúria venha à tona de tempos em tempos, que pode ser sucumbida temporariamente na cotidianidade, mas que jamais consegue ser esquecida. Entretanto, os raios solares que ardem como fogo nas águas pantaneiras podem transmudar a força da indignação em um poder que pode nos mover à concreção dos nossos desejos. Foi no território da luta e da vontade que emana da gente de Mimoso, que aprendemos a história cultural do espaço recortado por fitofisionomias próprias, mas com gana política inscrita na mesma temporalidade. Mimoso é, assim, um outro nome da cidadania.
A Rede Internacional de Justiça Ambiental (ACSERALD, 2004) compreende a condição de existência política tendenciosa, cujos danos ambientais sempre afetam os grupos de trabalhadores, as populações de baixa renda, os segmentos raciais discriminados e as parcelas marginalizadas que são mais vulneráveis da chamada cidadania.No caso específico de Mimoso, que resguarda ainda suas expressões culturais aliadas à beleza natural, os grandes impactos ambientais asseveram drasticamente a população. A apropriação elitista de espaços e territórios exige a construção de uma nova temporalidade histórica que denuncie as disparidades e a concentração de renda somente nas mãos dos controladores do poder. Face às injustiças ainda pulsantes fortes em Mimoso, a EA assumida no interior do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental (GPEA) tem o compromisso de construir alternativas de vida digna, primordialmente no âmbito local, pela ousadia da invenção pedagógica capaz de criar e recriar movimentos de esperanças à tessitura da cidadania nacional.
O resgate às lendas e “causos” da localidade, bem como as narrativas de vida das pessoas evidenciaram o reconhecimento de que todo saber é igual por direito e a
formação do grupo pesquisador, entre a comunidade e a universidade, foi logo
possível. Adentrando nas oficinas sociopoéticas, teatros, expressões artísticas e
a aprendizagem com o corpo todo possibilitaram a formação de uma comunidade de aprendizagem que interpretava a dimensão ambiental na reinvenção educativa do fiar e desfiar democracia, entre os fóruns de discussões e reuniões de planejamento aos pequenos projetos comunitários. Estavam também presentes as reuniões de avaliação, da superação da premiação e do castigo para uma tessitura do reconhecimento dos potenciais e sua sustentabilidade, bem como a autocrítica em desvendar as falhas e buscar as táticas de superação. E, obviamente, as
festas comunitárias estavam muito vivas, na metodologia etnográfica que descarta a hierarquia de um festejo ao aconchego de um grupo pesquisador.
O que se descortinava no palco era a vontade de tecer indicadores que se situassem além da economia, e que, sobremaneira, abandonassem a visão paternalista de “geração de renda”, mas que se inscrevesse na ousadia da transformação. O sonho cidadão era construir uma linha de dignidade, que também pode ser interpretada como “não obedecer a nenhuma lei que não seja instituída por ele mesmo” (Kant apud ABBAGNANO, 1998, p.276). No marco da cidadania existencialista, que projeta a vida como meta, nunca apenas como meio, a linha de dignidade visa reduzir o espaço ambiental, estabelecendo um teto nas explorações da biorregião e um piso mínimo de vida digna.
As esperanças devem fluir por dentro da EA e animá-la, revelando que é possível aferir dignidade através do projeto de cidadania.Foi concordando com a frase de Jean Pierre Leroy (2005, p.24), que afirma que “a perda das raízes e da identidade é muito ligada à perda de uma relação com o meio ambiente”, que iniciamos compreendendo a percepção ambiental da comunidade, e vagarosamente, estamos construindo indicadores sociais qualitativos que possam oferecer uma identidade na “qualidade de vida” da biorregião. Para além das duvidosas orientações internacionais, a noção de dignidade aproximou-se da cidadania, na tessitura conceitual da linha de dignidade da biorregião.
Na contemplação desta paisagem, bem aquém de um santuário ecológico, é possível que a fúria venha à tona de tempos em tempos, que pode ser sucumbida temporariamente na cotidianidade, mas que jamais consegue ser esquecida. Entretanto, os raios solares que ardem como fogo nas águas pantaneiras podem transmudar a força da indignação em um poder que pode nos mover à concreção dos nossos desejos. Foi no território da luta e da vontade que emana da gente de Mimoso, que aprendemos a história cultural do espaço recortado por fitofisionomias próprias, mas com gana política inscrita na mesma temporalidade. Mimoso é, assim, um outro nome da cidadania.
Ética
A ética dos pequenos atos
Por Eugenio Mussak - Texto publicado na revista Você s/a, Editora Abril.
É incrível como aprendemos sobre pessoas usando a técnica denominada "observação passiva". Trata-se, simplesmente, de prestar atenção ao comportamento humano, especialmente nas pequenas coisas, sem interferir. Tive recentemente uma experiência com a qual pude aprender sobre coerência de conduta. Eu estava na sala de embarque do aeroporto. Também estava ali um conhecido e controvertido político, desses que passam a maior parte do tempo dando explicações sobre suspeitas de corrupção.
Quando o funcionário anunciou o embarque, recomendou que se apresentassem primeiro os passageiros das filas 15 a 28. Os demais deveriam esperar. É uma técnica para agilizar a operação. Como eu estava na fileira 12, esperei. O político, porém, foi o primeiro a se postar no portão de embarque. Certamente estava no fundo do avião, pensei. Entretanto, quando entro no avião, ele está sentado em uma das primeiras poltronas.
Durante o vôo refleti sobre o episódio. Por que o fato me incomodava? Ele não havia atrapalhado a viagem, nem comprometera a segurança. Sim, mas, por menor que seja o descumprimento a uma norma de conduta - ponderei - constitui uma contravenção. Pequena, inocente e até insignificante, mas, mesmo assim, uma contravenção. Do episódio sobraram uma constatação e um aprendizado. A constatação: certamente, para ele, o negócio é levar vantagem, mesmo descumprindo as normas, do avião ou da República. O aprendizado: a ética nas grandes coisas começa nas pequenas. As pessoas agem no atacado como no varejo. Creia, você é observado nas pequenas coisas - positivas e negativas -, principalmente se for o líder de um grupo. Sempre alguém notará as sutilezas de seu comportamento cotidiano e pensará: "Ele é assim".
Para terminar a história do político, o motorista que me apanhou no aeroporto era seu eleitor e fã, a ponto de emocionar-se ao vê-lo. E comentou: "Ele é um bom político - rouba, mas faz". O que me levou a perguntar-lhe: "O senhor não acha que ele poderia fazer sem roubar?". "Mas ele é um político... São todos assim", ponderou. Esse conceito
conformista explica muita coisa. Segundo ele, quem detém o poder, e pode ajudar os outros, fica livre de freios morais, aplicáveis aos que dependem de sua compaixão.
Não se trata disso, e sim de obrigação. Ele foi eleito para cuidar dos interesses da sociedade, e não dos seus próprios. Sobre isso, diria Platão: "Ética sem competência não se instala. Competência sem ética não se sustenta". A não ser, é claro, que levar vantagem em tudo seja um traço cultural, o que significaria apunhalar a meritocracia. E isso não convém a ninguém que considere a ética um valor, especialmente se for um líder.
Por Eugenio Mussak - Texto publicado na revista Você s/a, Editora Abril.
É incrível como aprendemos sobre pessoas usando a técnica denominada "observação passiva". Trata-se, simplesmente, de prestar atenção ao comportamento humano, especialmente nas pequenas coisas, sem interferir. Tive recentemente uma experiência com a qual pude aprender sobre coerência de conduta. Eu estava na sala de embarque do aeroporto. Também estava ali um conhecido e controvertido político, desses que passam a maior parte do tempo dando explicações sobre suspeitas de corrupção.
Quando o funcionário anunciou o embarque, recomendou que se apresentassem primeiro os passageiros das filas 15 a 28. Os demais deveriam esperar. É uma técnica para agilizar a operação. Como eu estava na fileira 12, esperei. O político, porém, foi o primeiro a se postar no portão de embarque. Certamente estava no fundo do avião, pensei. Entretanto, quando entro no avião, ele está sentado em uma das primeiras poltronas.
Durante o vôo refleti sobre o episódio. Por que o fato me incomodava? Ele não havia atrapalhado a viagem, nem comprometera a segurança. Sim, mas, por menor que seja o descumprimento a uma norma de conduta - ponderei - constitui uma contravenção. Pequena, inocente e até insignificante, mas, mesmo assim, uma contravenção. Do episódio sobraram uma constatação e um aprendizado. A constatação: certamente, para ele, o negócio é levar vantagem, mesmo descumprindo as normas, do avião ou da República. O aprendizado: a ética nas grandes coisas começa nas pequenas. As pessoas agem no atacado como no varejo. Creia, você é observado nas pequenas coisas - positivas e negativas -, principalmente se for o líder de um grupo. Sempre alguém notará as sutilezas de seu comportamento cotidiano e pensará: "Ele é assim".
Para terminar a história do político, o motorista que me apanhou no aeroporto era seu eleitor e fã, a ponto de emocionar-se ao vê-lo. E comentou: "Ele é um bom político - rouba, mas faz". O que me levou a perguntar-lhe: "O senhor não acha que ele poderia fazer sem roubar?". "Mas ele é um político... São todos assim", ponderou. Esse conceito
conformista explica muita coisa. Segundo ele, quem detém o poder, e pode ajudar os outros, fica livre de freios morais, aplicáveis aos que dependem de sua compaixão.
Não se trata disso, e sim de obrigação. Ele foi eleito para cuidar dos interesses da sociedade, e não dos seus próprios. Sobre isso, diria Platão: "Ética sem competência não se instala. Competência sem ética não se sustenta". A não ser, é claro, que levar vantagem em tudo seja um traço cultural, o que significaria apunhalar a meritocracia. E isso não convém a ninguém que considere a ética um valor, especialmente se for um líder.
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